E se você pudesse colher os benefícios do exercício sem mover um músculo? Um novo estudo da Inglaterra deu um passo importante para entender como o corpo humano se sente quando está se exercitando e desenvolvendo uma maneira potencial de acionar essa "opção" sem suar a camisa.
Mas não cancele sua inscrição na academia ainda: o novo estudo foi realizado em ratos e são necessárias muito mais pesquisas para explorar os efeitos em humanos.
Durante o exercício, a freqüência cardíaca de uma pessoa aumenta, bombeando mais sangue por todo o corpo. Mas esse aumento do fluxo sanguíneo não atinge todas as partes do corpo de uma pessoa igualmente; mais sangue vai para os músculos esqueléticos e cérebro de uma pessoa e menos para órgãos internos, como estômago e intestinos.
O que não ficou claro, no entanto, foi como o corpo sabia desviar o sangue de uma parte do corpo para outra durante o exercício, disse David Beech, autor sênior do estudo, professor de ciências cardiovasculares da Universidade de Leeds, na Inglaterra.
No novo estudo, os pesquisadores identificaram uma proteína em camundongos que parece fazer exatamente isso: detectar quando o exercício está acontecendo e desviar o fluxo sanguíneo de acordo, disse Beech à Live Science.
A proteína, chamada Piezo1, atua como um "sensor de exercício", disse Beech. É encontrado nas células que revestem as partes internas dos vasos sanguíneos perto do estômago e intestinos. Durante o exercício, o sangue flui mais rapidamente e o Piezo1 pode sentir essa mudança na velocidade. Por sua vez, a proteína provoca a contração dos vasos sanguíneos próximos aos órgãos digestivos, de modo que menos sangue flui para essa parte do corpo e mais para os músculos esqueléticos e o cérebro, segundo o estudo.
No estudo, publicado hoje (24 de agosto) na revista Nature Communications, os pesquisadores compararam o fluxo sanguíneo em ratos normais com o fluxo sanguíneo de ratos sem a proteína Piezo1. Durante a atividade física (neste caso, correndo em uma roda), os vasos sanguíneos próximos aos órgãos digestivos não se contraem nos ratos sem a proteína. Além disso, os camundongos que possuíam a proteína tiveram melhor desempenho físico do que os camundongos sem a proteína.
Usar a força
O exercício desempenha um papel importante na saúde de uma pessoa, e uma grande questão é se essa proteína pode contribuir para esses benefícios à saúde, disse Beech. E, se for esse o caso, os cientistas poderiam desenvolver um medicamento que pudesse ativar a proteína?
Beech e sua equipe já deram um passo nessa direção. Em outra parte do estudo, os pesquisadores fizeram experimentos com um composto chamado "Yoda1" que interagia com a proteína Piezo1. (Yoda1 recebeu esse nome por um grupo diferente de cientistas porque sabia-se que a proteína com a qual interagia tinha algo a ver com força, acrescentou Beech.)
Nos experimentos, realizados em pratos de laboratório, o Yoda1 pareceu ativar o Piezo1, semelhante à maneira como o aumento do fluxo sanguíneo seria, segundo os pesquisadores.
Agora, eles estão trabalhando para criar uma forma do composto Yoda1 que eles poderiam dar aos ratos, para ver se isso teria os mesmos efeitos no corpo dos animais, disse Beech. Em outras palavras, a pesquisa pode ser um passo inicial para o desenvolvimento de um medicamento que imite os efeitos do exercício.
Embora o novo estudo tenha sido realizado em animais, Beech observou que as células humanas também possuem a proteína Piezo1.
"Sabemos que o mecanismo está presente nas células dos vasos sanguíneos humanos", disse Beech. E "sabemos que o fluxo sanguíneo é restrito aos intestinos nos seres humanos durante o exercício, assim como nos ratos", disse ele. Os pesquisadores esperam resultados semelhantes em humanos, disse Beech, mas é claro que isso ainda precisa ser estudado em grandes detalhes.